Desde pequeno, lembro que na escola quando eu olhava os garotos, eu já sentia algo diferente e olhava para as meninas e nada me atraia nelas, mas até então eu não tinha me descoberto Gay.
A Internet foi uma
ferramenta muito essencial para mim. Nas Lan Houses eu entrava nas salas de
bate papos, era o único lugar que eu podia encontrar pessoas para
conversar sobre sexo, encontros e etc... Nesse tempo o bate papo era a melhor
maneira de conversar com gays e pessoas a fim de sexo, diferente de hoje que os
aplicativos são mais utilizados.
Então com mais ou
menos 15, 16 anos de idade eu frequentava muito a Lan House para conversar com
caras no Bate papo, Orkut e Msn. Certo dia eu estava numa Lan House de Júnior
que ficava na principal do bairro, Dai um cara chamado Ítalo tomava conta
naquele momento da Lan House, lembro que eu estava na sala sozinho, usando um
perfil fake com a foto de um cara alto e um pouco forte, de repente ele entrou na sala e viu o perfil
do Orkut. Ele pergunta que cara era aquele, e depois falei que era meu Fake,
parece que era comum todo gay ter um perfil Fake para conversar ou marcar algo
com alguém, eu disse: - Sim! Ele atrás de mim ficou pegando no pau ainda e
mostrando pra mim, logico eu com muita vontade de pegar, fiquei olhando e acabei pegando em seu pau.
No mesmo dia ele me
chamou para ir pro campo do B******* para ficar, eu nunca tinha ido naquele
lugar, pois era esquisito mas topei e a noite ficamos lá, se beijamos, saramos,
não lembro se rolou penetração mas foi legalzinho.
Depois disso conheci
outros caras como, Djalma, que eu conversava sempre na internet e certo dia
combinou de ficar no mesmo campo que eu já tinha ido, outra vez ele me pegou de
moto e formos ao encontro de seus amigos, passamos na pousada, ficamos e depois
me deixou em casa, ele foi um dos primeiros caras que fiquei. Outro cara que eu
fiquei bem no começo foi um que morava na Av. Nego em um apartamento muito
chique, subi e transamos.
O tempo foi passando,
fui ganhando experiência, e acabei descobrindo que na praia havia uma pegação,
nunca imaginaria que existiria isso numa praia, Como assim? Os homens vão e se
pegam? Tem vários homens lá? Fiquei surpreso! Comecei a frequentar a pegação,
ficava com várias caras gostosos, alias eu era novinho ainda, muitos caras
notavam que eu era ainda menor de idade, mas sempre ficava com alguém legal.
Com meus 16 anos por
ai comecei a ir para as Quartas feiras TAMBIÁ, onde se encontravam a maioria
gays, mas também outras tribos como roqueiros, hippies e etc. Mas com um tempo lá
foi ficando ruim, muitas pessoas deixaram de ir, mas sempre era divertido,
ficar no mosteiro, casa da pólvora, pessoas conversando, bebendo e se conhecendo,
muito bom!
Desde pequeno eu já escutava insultos de algumas pessoas,
principalmente dos meninos da minha idade que moravam na minha rua ou na escola
do tipo, gay, veado, mas só quando tinha algumas desavenças entre a gente,
sempre tive três jeitos mais afeminado, mais delicado, andava apenas com as
meninas, só queria estar no meio das mulheres e falando de coisas de mulheres,
não é uma novidade pra ninguém que a maioria dos gays já fizeram isso ou
passaram quando eram crianças.
Fui crescendo, mas
nunca vi discriminação diretamente da parte da minha família, ou algo ofensivo.
Não sentia uma necessidade de sentar em uma mesa, reunir minha família e
contar, até porque nós não somos disso aqui. Então depois de todas essas experiências
que passei é claro que a família percebe que tem algo de diferente em seu
filho.
Aos 17 anos mais ou
menos, conheci um cara chamado Luan, conheci ele na pegação daqui do bairro, e
sempre me dava presentinhos, mas dai perdi meu celular e ele iria me dá um para
nós ficarmos se comunicando, e dai ele achou melhor contar para minha mãe que
ia ganhar um celular do namorado. Nem sei de onde tirei coragem, também não
lembro se estava com vergonha ou medo, acho que pelo fato que eu estava
gostando tanto dele que eu falei e nem pesou tanto pra mim, e minha mãe o que
eu lembro o que ela disse foi tá certo ou algo do tipo, mas esse cara é certo,
eu disse apenas Sim!
Outro dia ele veio
com meu amigo para conhecer minha mãe e se cumprimentaram e minha irmã também a
conheceu, foi na rua algo muito rápido, depois voltamos para a praça. Um dia eu
estava na casa da minha tia com meu primo no quarto e eu fingindo que eu estava
com sono na cama com ele e aconteceu que nós dois ficamos se pegando, e meu pai
já com intuito de nos pegar, veio caladinho e pegou no flagra, lembro que ele
disse não quero filho pra ser ‘’Caba Safado’’ não! E sempre me perguntando na
hora o que eu estava fazendo e eu disse nada, sai com as calças um pouco
caindo, me arrumando e ele me mandou ir pra casa, acredito que isso foi antes
de tudo que eu já contei aqui.
Outra situação foi
quando fui ao CAC com meu amigo Alverley do Almeida, fiquei bêbado, muito mal,
vomitei na frente do CAC, algumas pessoas me viram lá com meu amigo e eu bêbado
também. Lembro que Tapioca me perguntou se eu estava bem e foi embora. No dia
seguinte essa boate estava cheio em boa parte das ruas próximas de casas, mas
sempre fui uma pessoa que não se importei tanto para as pessoas do bairro.
Certa vez eu dormi na
casa da minha tia porque meus pais tinham falado que se eu chegasse tarde eu
iria dormir na rua, acabei indo dormir na casa da minha tia, no outro dia meu
pai foi até lá, me viu dormindo e me chutou e falou tipo: Ah seu sem vergonha,
não é pra abrir não pra ele dormir, deixa ficar na rua. Meus pais antes dos
meus 18 anos, tinha muita frescura quando eu saia e chegava tarde em casa,
sempre tinha alguma confusão ou algo do tipo, ameaçando eu dormir fora se não
chegar na hora que pediu pra eu chegar.
Mas como eu ia todos os dias ao CARD com os meninos, sempre chegava tarde, era
uma diversão muito legal, muitos papos, teve um tempo que levavam bebidas,
salgados era muito divertido ficar ali até tarde, apesar que era perigoso mas
nem se preocupava com isso, hoje em dia não teria mais coragem de fazer o que
nós fazíamos.
Foi com eles que eu
fiquei mais por dentro desse MUNDO GAY que vivo hoje, escutando historia,
passando por experiências. Conheci o Card por causa de um cara que conheci na
internet e ele me levou para lá e ficamos, até então eu não sabia que ali era
um pegação, no outro dia voltei e fiquei com outro cara lá, e depois conheci Geovane,
e marcava sempre pra se encontrar lá, depois novas pessoas foram aparecendo como
Patrício, Junior e Adriano, até eu começar a estudar e conhecer meu Amigão e
levar ele também para lá. Isso até prejudicou muito nossos estudos, pois a
gente deixava de estudar para ir pro Card, mas era tão bom, o ambiente, as
coisas, as conversar, os caras que sempre aparecia pra ficar que a gente dizia:
Fazer rs!
Posso dizer que foi uma
experiência maravilhosa minha descoberta, não me arrependo de nada que eu fiz,
faria tudo de novo, mudaria algumas coisas claro, mas foi uma boa experiência,
o que eu sei hoje sobre esse Mundo gay tão expansivo tem um pouco de tudo que
já passei, agradeço pelos os amigos que fiz, pelos perigos que passei, pela
minha família que não tive nenhum problema tão grave quanto a minha
sexualidade, pois foi tranquilo se a aceitação se comparando a tantas pessoas
que já passaram por coisas tão piores! Hoje tenho mais de 20 anos e sou muito bem resolvido, empoderado, politizado e querendo um mundo melhor para todos nós, principalmente aos LGBTs.

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