A lógica parece simples. Pais e mães gays só poderão ter
filhos gays, afinal, eles vão crescer em um ambiente em que o padrão é o
relacionamento homossexual, certo? Não necessariamente. (Se fosse assim, seria
difícil, por exemplo, explicar como filhos gays podem nascer de casais
héteros.) Um estudo da Universidade Cambridge comparou filhos de mães lésbicas
com filhos de mães héteros e não encontrou nenhuma diferença significativa
entre os dois grupos quanto à identificação como gays. Mas isso não quer dizer
que não existam algumas diferenças. As famílias homoparentais vivem num
ambiente mais aberto à diversidade – e, por consequência, muito mais tolerante
caso algum filho queira sair do armário ou ter experiências homossexuais. “Se
você cresce com dois pais do mesmo sexo e vê amor e carinho entre eles, você
não vê nada de estranho nisso”, conta Arlene Lev, professora da Universidade de
Albany. Mas a influência para por aí. O National Longitudinal Lesbian Family
Study é uma pesquisa que analisou 84 famílias com duas mães e as comparou a um
grupo semelhante de héteros. Ainda entre as meninas de famílias gays, 15,4% já
experimentaram sexo com outras garotas, contra 5% das outras. Já entre meninos,
houve uma tendência contrária: 5,6% nos adolescentes criados por mães lésbicas
tiveram experiências sexuais com parceiros do mesmo sexo – mas menos do que os
que cresceram em famílias de héteros, que chegaram a 6,6%. Ou seja, não dá para
afirmar que a orientação sexual dos pais tenha o poder de definir a dos filhos.
Mito 2. “Eles precisam da figura de um pai e de uma mãe”
Filhos de gays não são os únicos que crescem sem um dos
pais. Durante a 2ª Guerra Mundial, estima-se que 183 mil crianças americanas
perderam os pais. No Brasil, 17,4% das famílias são formadas por mulheres
solteiras com filhos. Na verdade, os papéis masculino e feminino continuam
presentes como referência mesmo que não seja nos pais. “É importante que a
criança tenha contato com os dois sexos. Mas pode ser alguém significativo à
criança, como uma avó. Ela vai escolher essa referência, mesmo que
inconsciente-mente”, explica Mariana Farias. Se há uma diferença, ela é
positiva. “Crianças criadas por gays são menos influenciadas por brincadeiras
estereotipadas como masculinas ou femininas”, diz Arlene Lev. Uma pesquisa
feita com 56 crianças de gays e 48 filhos de héteros apontou a maior
probabilidade de meninas brincarem com armas ou caminhões. Brincam sem as
amarras dos estereótipos e dos preconceitos.
Mito 3. “As crianças terão problemas psicológicos por causa
do preconceito!”
Elas sofrerão preconceito. Mas não serão as únicas. No
ambiente infantil, qualquer diferença – peso, altura, cor da pele – pode virar
alvo de piadas. Não é certo, mas é comum. Uma pesquisa da Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas com quase 19 mil pessoas mostrou que 99,3% dos estudantes
brasileiros têm algum tipo de preconceito. Entre as ações de bullying, a
maioria atinge alunos negros e pobres. Em seguida vêm os preconceitos contra
homossexuais.
No caso dos filhos de casais gays analisados pelo National
Longitudinal Lesbian Family Study, quase metade relatou discriminação por causa
da sexualidade das mães. Por vezes, foram excluídos de atividades ou
ridicularizados. Vinte e oito por cento dos relatos envolviam colegas de
classe, 22% incluíam professores e outros 21% vinham dos próprios familiares.
Felizmente, isso não é sentença para uma vida infeliz. Pesquisas que comparam
filhos de gays com filhos de héteros mostram que os dois grupos registram
níveis semelhantes de autoestima, de relações com a vida e com as perspectivas
para o futuro. Da mesma forma, os índices de depressão entre pessoas criadas
por gays e por héteros não é diferente.
Mito 4. “Essas crianças correm risco de sofrer abusos
sexuais!”
Esse mito é resquício da época em que a homossexualidade era
considerada um distúrbio. Desde o século 19 até o início da década de 1970, os
gays eram vistos como pervertidos, portadores de uma anomalia mental
transmitida geneticamente. Foi só em 1973 que a Associação de Psiquiatria
Americana retirou a homossexualidade da lista de doenças mentais. É pouquíssimo
tempo para a história. O estigma de perversão, sustentado também por líderes
religiosos, mantém a crença sobre o “perigo” que as crianças correm quando
criadas por gays. Até hoje, as pesquisas ainda não encontraram nenhuma relação
entre homossexualidade e abusos sexuais. Nenhum dos adolescentes do National
Longitudinal Lesbian Family Study reportou abuso sexual ou físico. Outra
pesquisa, realizada por três pediatras americanas, avaliou o caso de 269 crianças
abusadas sexualmente. Apenas dois agressores eram homossexuais. A Associação de
Psiquiatria Americana ainda esclarece: “Homens homossexuais não tendem a abusar
mais sexualmente de crianças do que homens heterossexuais”.
Dá para adotar no Brasil?
A lei de adoção brasileira deixa brechas para a adoção por
gays sem fazer referência direta a esse tipo de família. Em 2009, quando houve
mudanças na legislação, casais com união estável comprovada puderam entrar com
pedido de adoção conjunta, sem o casamento civil. Em maio de 2011, o Supremo
Tribunal Federal (STF) garantiu o reconhecimento de união estável entre pessoas
do mesmo sexo, fazendo valer também a eles os direitos previstos para casais
héteros. Apesar das conquistas, uma pesquisa do Ibope revelou que 55% dos
brasileiros são contra a união estável e a adoção de crianças por casais
homossexuais.
E ficamos com essa imagem maravilhosa de uma Familia Homoafetiva

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